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Dois dedos de prosa com Juliana Lintz: machismo Institucional é tema da primeira edição

Dia da Mulher é sinônimo de luta por direitos, igualdade e sororidade. Logo, celebrar esta data é se unir a uma causa que busca um mundo melhor, que respeite e estimule a pluralidade, a diversidade e a vida digna para toda a humanidade.

E neste dia tão importante, 8 de março ou #8M, a ADPERJ lança a coluna “Dois dedos de prosa com Juliana Lintz”, em que a presidenta da ADPERJ vai trazer reflexões sobre temas relevantes da atualidade, abordar assuntos de interesse da categoria, bastidores da atuação associativa em prol da classe, entre outros tópicos, buscando aprofundar pontos com um toque pessoal e aproximar a(o) associada(o) da entidade classista.

E o tema da primeira coluna não poderia ser mais atual e urgente: o machismo institucional. Leia o texto completo abaixo.

Menos flores, mais respeito: machismo institucional e algumas formas de combatê-lo

O Dia da Mulher vem ganhando cada vez mais notoriedade por seu viés de luta por direitos e igualdade, desconstruindo as celebrações que objetificam e fragilizam o gênero feminino.

Mas os desafios são gigantes. Além das marcas visíveis desse tipo de violência que ceifam milhares de vidas de vítimas do feminicídio todos os anos, há ainda as marcas invisíveis ou sutis, oriundas da retórica de que homens e mulheres têm papéis definidos por natureza, e que nos colocam em um lugar de subordinação.

O machismo institucional é um deles. Não deixa olho roxo nem mata a sangue frio, mas relega às mulheres papéis subalternos, intimida, humilha, ridiculariza, cria obstáculos para que alcancem espaços de decisão e poder.

Como mulher, exercendo a carreira de defensora pública há mais de 30 anos, já em meu terceiro mandato como presidenta de uma entidade classista estadual, e iniciando o de vice-presidenta institucional da entidade nacional, sou testemunha e vítima desse tipo de violência e discriminação.

Não se trata de um ato individual, por parte de um ou outro colega machista, é um fenômeno inerente a nossa cultura patriarcal, é estrutural.

Não por acaso, mesmo em instituições compostas majoritariamente por mulheres, os cargos de comando são ocupados por homens. Se fizermos a interseccionalidade entre gênero e raça, os números são ainda mais discrepantes, evidenciando que a mulher negra é a principal vítima do machismo em todos os quesitos.

No caso do sistema de justiça, a falta de representatividade e conscientização impactam também os serviços prestados à população, reiterando e reproduzindo o machismo em suas práticas e arquitetura.

Nesse sentido, a atuação associativa tem muito a contribuir para mudar esse cenário, propondo eventos, debates sobre o tema, cobrando das instituições por mudanças, revisões de normas que prejudiquem funcionárias e usuárias do sistema de justiça, além de estimular ações e políticas que deem protagonismo às mulheres.

Nos últimos anos, a ADPERJ tem se empenhado em envolver defensoras e defensores no debate e amadurecimento sobre as assimetrias de gênero e suas interseccionalidades. Um evento potente, realizado em novembro passado, em nossa sede, foi a roda de conversa “Cotas raciais e o sistema de justiça” com a promotora de justiça Lívia SantAnna Vaz, mediada pela coordenadora da Coopera, a defensora Lívia Casseres. Conversamos sobre os inúmeros desafios para democratizar o judiciário brasileiro, e inevitavelmente, foram muito debatidas a questão de gênero e a necessidade das mulheres brancas, maioria no sistema de justiça, enxergarem seu lugar de privilégio, e combatê-lo.

O encontro “Mulher, Política e Poder” foi outra experiência enriquecedora, promovido pela Associação em maio de 2022, que tratou de questões da saúde mental relacionada ao gênero e suas interseccionalidades, com a palestrante e professora de psicologia clínica da Universidade de Brasília, Valeska Zanello. O evento foi gravado e pode ser assistido em nosso canal do YouTube Defensores com Você.

A articulação de defensoras na luta por igualdade de gênero também tem sido fundamental para gerar transformações em nossas instituições. A ColetivA de Defensoras Públicas do Brasil, da qual tenho muito orgulho de ter sido uma das fundadoras, é exemplo emblemático. Desde a sua criação, em 2016, o grupo tem estimulado o debate sobre a realidade da mulher defensora, os direitos das mulheres, posicionando-se e trazendo reflexões relevantes sobre essa temática no país, combatendo a violência de gênero, especialmente a violência institucional.

Trouxe aqui alguns exemplos, mas há inúmeras experiências Brasil afora de coletivos, redes e grupos de mulheres (e homens aliados) do sistema de justiça que ganham cada vez mais força e geram pressão dentro das instituições, e, sobretudo, inspiram e fortalecem mais mulheres a aderirem à luta contra os estigmas e estereótipos que atravessam as mulheres, e a se rebelarem contra a invisibilidade e o desrespeito causados pelo machismo no ambiente de trabalho e na assistência a usuárias dos serviços públicos.

Somente na luta coletiva conseguiremos avançar, mudar a cultura patriarcal e misógina em que vivemos, implementar e aprimorar políticas públicas transversais para garantir a igualdade de gênero e raça em todos os âmbitos.

Celebrar o #8M é reforçar a necessidade de um modelo de sociedade equânime e democrático, bem como a importância da união de todas, todos e todes na construção coletiva e plural por um mundo mais justo e igualitário.

ASSOCIAÇÃO DAS DEFENSORAS E DEFENSORES PÚBLICOS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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